Sabe aquela história de uma marca ser maior até do que a empresa? Não vou dar colher de chá citando nomes, mas se somar todos os prédios, laboratórios e pessoal de algumas empresas de tecnologia, a marca vale mais. Aos 50 anos, o Mustang é um fenômeno parecido. Vale mais do que o grupo? Não... mas que carisma! Com o carro chegando à sua sexta geração, a Ford não deixa de lembrar, a todo momento, quantas centenas de vezes o modelo já foi citado no cinema e na música, e que ele é um ícone da cultura pop. Desafia o Batmóvel. Mas e na preferência do público?
Foi o que Autoesporte foi conferir no lançamento do cupê, feito em Los Angeles (EUA). O Mustang coroa a estratégia global da Ford. Conforme antecipamos em outubro de 2013, o pony car vai chegar a mercados onde nunca esteve – incluindo o Brasil, onde tem prazo de desembarque ainda incerto, e preço na versão V8 top acima dos R$ 270 mil. E, além de rivais tradicionais, como Dodge Challenger e Chevrolet Camaro, vai encontrar pela frente concorrentes que nunca enfrentou, como os alemães da Audi e da BMW.
A versão 2015 do Mustang traz a assinatura de estilo da Ford, com o hexágono horizontal na grande dianteira que remete diretamente ao Fusion e ao New Fiesta. E a familiaridade fica por aí. Vincos sobre o longo capô e ao longo das laterais, a coluna A muito inclinada, uma coluna B “disfarçada” e o teto caído na traseira combinam-se no visual de um carro à espera de seu motorista para entrar em ação. O oval azul é substituído pelo icônico cavalo selvagem a galope.
E é assim que você vai se sentir ao assumir o volante do Mustang. Galopar é emocionante, e a “versão carro” do cavalo raçudo honra a fama de força do animal do qual tomou o nome. Pise no acelerador e aprecie o som grave dos oito cilindros, sem exageros ou recursos sonoros especiais. Apenas o som puro e grave do motor. Desamarre as rédeas – ou melhor, solte o freio – e saia. No V8, doses generosas dos 55 kg de força são servidas já em médias rotações. A potência máxima de 441 cavalos chega a 6.500 rotações.
A maior parte dos modelos V8 GT disponibilizados pela Ford para o test drive estava equipada com câmbio manual de seis marchas. Curiosidade do mercado norte-americano: onde o automático impera, dirigir um esportivo inspira o condutor à troca manual das marchas, diferente do Brasil, onde se busca o status da transmissão automática.
O percurso de 250 km por Los Angeles e arredores foi cumprido com esse câmbio bem escalonado, de engates fáceis, instalado em posição ergonomicamente impecável. Rodando em vias expressas, a tentação era manter uma marcha logo abaixo da indicada para sentir o motor “nervoso” e seu ronco “aceso”. Divertido. A sexta funciona na prática como uma sobremarcha.
O percurso de 250 km por Los Angeles e arredores foi cumprido com esse câmbio bem escalonado, de engates fáceis, instalado em posição ergonomicamente impecável. Rodando em vias expressas, a tentação era manter uma marcha logo abaixo da indicada para sentir o motor “nervoso” e seu ronco “aceso”. Divertido. A sexta funciona na prática como uma sobremarcha.
Concluído o circuito, após algumas horas, foi preciso batalhar e esperar por uma extensão a fim de conhecer o V8 GT com câmbio automático de seis velocidades – a configuração que, afinal, será oferecida no mercado brasileiro. O contato foi mais rápido, mas revelou uma transmissão tão bem sintonizada com o motor quanto a manual, com trocas suaves. No modo Sport, é possível fazer as mudanças por aletas junto ao volante.
O motor V8 pode ser a essência de um carro que leva as letras GT, mas, indo além de suas respostas enérgicas, o prazer de conduzir esse Mustang fica muito também por conta da suspensão. Seu chassi foi desenvolvido exclusivamente para receber o esportivo que, entre outras características, tornou-se mais largo na traseira com relação à última versão do modelo. Independente nas quatro rodas, MacPherson na dianteira e integral-link na traseira, o conjunto de suspensão evita o rolamento da carroceria em velocidade, curvas e sobre irregularidades do piso, transmitindo confiança ao motorista e conforto para os ocupantes. As rodas de 19 polegadas calçam pneus PZero 255/40.
Destaque ainda para a direção com assistência elétrica de ótima empunhadura e respostas precisas e adequadas à velocidade do momento. Ao acomodar-se o motorista sente-se ao volante de um... Mustang. Obvio, não? Mas o fato é que o interior não inova em sua tradicional sugestão de oferecer elementos de aviação, com soluções que, bem, não são unanimidade. Estão lá acabamentos em alumínio polido e metal cromado, saídas de ventilação redondas e retangulares no mesmo painel, e teclas de controle de tração design estranho. Destaque para a plaquinha de metal polido no lado direito do painel: “Mustang. Since 1964.” Simples e elegante como um bom vinho.
Os instrumentos têm leitura ótima, e estão presentes todos os recursos de interatividade que a Ford vem oferecendo, como o Sync e um dock que, promete a montadora, recarrega a bateria de um celular “duas vezes mais rápido”. Os ocupantes são protegidos por até oito air bags em caso de acidente.
O consumo médio no circuito misto de vias expressas e estradas secundárias – subindo e descendo colinas -, segundo o computador de bordo foi de 4,4 km/litro de gasolina com 93 octanas. Além desse sedento V8 5.0, a Ford oferece o Mustang também equipado com um V6 3.7 (304 cavalos) e um quatro cilindros EcoBoost 2.3 (310 cv), esse com injeção direta, comando de válvulas variável e turbocompressor.
Ford está tratando a sexta geração do Mustang como um “fastback”, não um cupê. Foi motivo de boas discussões com engenheiros e executivos da montadora. Eu, particularmente, não me importo de usar um ou outro, desde que tenha um sinônimo para não deixar o texto repetitivo. E creio que nem o consumidor vai se incomodar muito com esse ou aquele adjetivo. Desde que possa ter o seu Mustang.
Isso pode demorar. O Mustang GT será a estrela da Ford no Salão de São Paulo, nas versões fastback e conversível. Não conte com menos de R$ 270 mil para seu preço no Brasil (Nos EUA, o primeiro modelo parte de 25 mil dólares). E também domine a ansiedade: ajustes para homologação e atender à legislação brasileira, que vão da cor das lentes do conjunto ótico a um lugar para instalação do extintor de incêndio, e a adequação do sistema de alimentação à gasolina com etanol, ainda precisam ser feitos. “Estamos trabalhando para acelerar, mas difícil o carro começar a ver vendido antes da linha 2016.” Em outras palavras, conheça o carro nesse salão, e prepare-se para receber o seu no próximo.
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