Basta tocar no assunto V8 para virem algumas coisas à cabeça. Ficou a lembrança daqueles motorzões com tanto torque em baixa que nem era necessário acelerar muito. Era só embalar ao som daquele gorgolejar e dar férias para o câmbio. Essas memórias afetivas são apagadas em segundos pelo Audi RS4. A perua oito cilindros liga o dane-se para tudo isso. Exige giro, induz a trocas de marcha desnecessárias e recompensa o motorista com má educação, gritando com todos ao redor a cada pisada no acelerador.
Agressividade de espécie ameaçada. Junto com o RS5, o RS4 Avant de R$ 448.600 é o derradeiro RS 4.2 V8 aspirado. Essa última palavrinha diz tudo, esse oito cilindros não respira com a ajuda de aparelhos. Nada de V6 turbo ou outra cartada de downsizing. Os 450 cv chegam após uma escalada até os 8.250 rpm, enquanto o torque de 43,8 kgfm incita você a ficar sempre na faixa dos 4 mil a 6 mil giros. Regime de supercarro, o mesmo 4.2 equipa o R8 (só que com cárter seco) e entrega seus 430 cv a 7.900 rpm e tem o mesmo torque.
Enquanto alguns V8 modernos têm roncos sintetizados para serem ouvidos com maior emoção no habitáculo, esse Audi aposta em uma orquestra analógica. A sua sonoridade é chiclete, difícil cansar de ouvir. Ao meter o pé, o barulho de aspiração é tão alto que pode ser confundido como algum tipo de compressão. Esse motor inspira forte para depois berrar, o ruído de ar sendo sugado só é abafado pelo grito que se torna primal acima dos 6 mil giros.
Ao jogar o câmbio para manual, as enormes haletas comandam o show: mesmo no limite de 8.500 rpm, a transmissão não passa automaticamente e corta a injeção em um RA-TA-TA-TA-TA capaz de abrir faixas. Melhor levá-lo para a pista. Ali até dummies conseguem bater os melhores tempos da perua. Com o controle de largada, basta segurar o acelerador enquanto se freia ao mesmo tempo para a rotação ser estabilizada acima dos 4 mil giros. Daí, crave de vez o pé e solte o pedal do meio para o RS4 atingir 100 km/h em 4,8 segundos.
No jogo pela “pole position”, ele pode não ter cedido ao suspiro dos turbos, porém se rendeu aos automatizados de dupla embreagem, no caso uma caixa de sete marchas S-Tronic. Além do controle de largada, o mecanismo é bem mais rápido que o antigo manual de seis velocidades e não deixa o giro cair. As retomadas são indecentes, de 40-80 km/h ou 60-100 km/h são apenas 2,5 segundos. Os freios têm discos ondulados na dianteira (que dissipam melhor o calor) e marcaram bons 25,8 metros para estancar de 80 a 0 km/h.
Sem o pedal da embreagem, parte da emotividade foi retirada para alguns. Então a Audi compensou mexendo na tração quattro. Embora a marca use o nome como grife para seus sistemas integrais, somente os carros com motor longitudinal têm tração quattro de diferencial central como o ur-Quattro (ou quattro original) de 1980.
Sem o pedal da embreagem, parte da emotividade foi retirada para alguns. Então a Audi compensou mexendo na tração quattro. Embora a marca use o nome como grife para seus sistemas integrais, somente os carros com motor longitudinal têm tração quattro de diferencial central como o ur-Quattro (ou quattro original) de 1980.
Nada de passar a força sob demanda por meio de uma embreagem, aqui o repasse é dividido pelo diferencial da melhor maneira, desigualmente. Normalmente, 60% da força vai para a traseira. Mas em um piscar de olhos (mais rápido do que isso, na verdade), 70% pode ir para a frente ou até 85% para trás. O sistema repassa a força para trás sem pena e, com os gremlins desligados, é fácil provocar a traseira e buscar o limite dos pneus Pirelli Pzero 265/30 aro 20. Após dirigir o RS4 Avant, fica a certeza de que só maquinistas veem graça em andar sobre trilhos. O melhor é o equilíbrio face um modelo com tração traseira. O RS4 Avant quer suscitar emoções sem causar choro.
Se o RS6 Avant é um míssil, esse RS4 tem uma dinâmica circense e faz graça onde antes a Audi oferecia apenas neutralidade. A agilidade é notável para um carro de 1.870 kg. São 155 kg a menos que o RS6, mas a sensação de estar em um veículo mais ágil é explicada em parte pela distribuição de peso de 56% para a frente e 44% atrás. Além disso, o RS4 Avant traz direção elétrica variável. Quanto mais se esterça, a relação torna-se mais rápida e exige costume.
Os puristas vão chiar, mas serão convertidos à eletrônica pelo Drive Select e os modos dinâmico, conforto, auto ou individual, que altera respostas de motor/câmbio, suspensão, direção e diferencial. Dá para deixar só a suspensão no auto e poupar vértebras destruídas no modo Dynamic, tudo sem cair na moleza do Comfort. Sem falar na vetoração de torque, que pode frear as rodas internas para deixar as externas fecharem mais as curvas.
Os puristas vão chiar, mas serão convertidos à eletrônica pelo Drive Select e os modos dinâmico, conforto, auto ou individual, que altera respostas de motor/câmbio, suspensão, direção e diferencial. Dá para deixar só a suspensão no auto e poupar vértebras destruídas no modo Dynamic, tudo sem cair na moleza do Comfort. Sem falar na vetoração de torque, que pode frear as rodas internas para deixar as externas fecharem mais as curvas.
Nessa cor azul, o RS4 lembra ainda mais a perua RS2 de 1994, o primeiro RS. Embora o motor aspirado seja defendido pelos entusiastas, a linhagem, na verdade, começou justamente pelos turbo. Se o RS2 tinha motor 2.2 turbo de cinco cilindros em linha e 315 cv afinado pela Porsche, o primeiro RS4 apelou para um 2.7 V6 turbo de 380 cv preparado pela Cosworth e o segundo chegou ao 4.2 V8. O próximo? Será o retorno dos V6 turbo. Afinal, ninguém quer o consumo de 6,2 km/l de gasolina na cidade e 8,5 km/l na estrada. Depois do 6.2 do Mercedes-Benz C 63 AMG e do 4.0 do BMW M3, o 4.2 FSI é o próximo V8 aspirado na lista de espécies ameaçadas. Não tente ligar para o Greenpeace.
Ser um símbolo do passado também é ruim por outro lado. Original de 2008, o interior é menos intuitivo e também perde em conectividade. Mesmo com enormes bancos concha, dois adultos altos vão bem atrás. Só não queira colocar um quinto elemento. São defeitos compartilhados com o A4 Avant tradicional, como o porta-malas de apenas 396 litros. Mas quem se importa? Leve um antienjoo para a família e aproveite para curtir o RS4 Avant em vida. Até porque com esse Audi e seu V8 de alto giro, não haverá um minuto de silêncio.
Ficha técnica
Preço sugerido: R$ 448.600
Motor: Dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V 32V, comando duplo, injeção direta, gasolina
Cilindrada: 4.163 cm³
Potência: 450 cv a 8.250 rpm
Torque: 43,8 kgfm entre 4.000 e 6.000 rpm
Transmissão: Automatizada de sete marchas e dupla embreagem, tração integral
Direção: Elétrica
Suspensão: Multilink na dianteira e na traseira
Freios: Discos ventilados
Pneus: 265/30 R20
Dimensões: Compr. 4,719 m, largura 1,850 m, altura 1,416 m, entre-eixos 2,813 m Capacidades:Tanque 61 l,
Porta-malas: 396 l (aferição AE)
Peso: 1.870 kg
Preço sugerido: R$ 448.600
Motor: Dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V 32V, comando duplo, injeção direta, gasolina
Cilindrada: 4.163 cm³
Potência: 450 cv a 8.250 rpm
Torque: 43,8 kgfm entre 4.000 e 6.000 rpm
Transmissão: Automatizada de sete marchas e dupla embreagem, tração integral
Direção: Elétrica
Suspensão: Multilink na dianteira e na traseira
Freios: Discos ventilados
Pneus: 265/30 R20
Dimensões: Compr. 4,719 m, largura 1,850 m, altura 1,416 m, entre-eixos 2,813 m Capacidades:Tanque 61 l,
Porta-malas: 396 l (aferição AE)
Peso: 1.870 kg
Números de teste
Aceleração: 0-100 km/h: 4,8 s; 0-400 m: 12,9 s
Retomada: 40-80 km/h (D): 2,5 s; 60-100 km/h (D): 2,5 s; 80-120 km/h (D): 3,4 s
Frenagem: 100 km/h: 36,9 m; 80 km/h: 25,4 m; 60 km/h: 14,4 m
Consumo (gasolina): 6,2 km/l (urb.); 8,5 km/l (rod.)
Aceleração: 0-100 km/h: 4,8 s; 0-400 m: 12,9 s
Retomada: 40-80 km/h (D): 2,5 s; 60-100 km/h (D): 2,5 s; 80-120 km/h (D): 3,4 s
Frenagem: 100 km/h: 36,9 m; 80 km/h: 25,4 m; 60 km/h: 14,4 m
Consumo (gasolina): 6,2 km/l (urb.); 8,5 km/l (rod.)
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