Nas ruas, a expressão era de incredulidade. Bocas entreabertas, cabeças em movimento, corpos paralisados e, quando o cérebro entendia o que os olhos vislumbravam, sacavam dos bolsos os smartphones. Todos procuravam registrar o momento em que o Jaguar F-Type Coupé R desfilava pela zona norte de São Paulo. Nunca dirigi um carro que causasse reação similar às pessoas à minha volta ou em mim. Fui arrebatada logo no galpão onde estava estacionado. Já passava das 18 horas e como já começava a escurecer, não o vi de longe.
Bastou um sutil aperto no alarme para o carro se denunciar na penumbra: os filetes de leds piscaram, as maçanetas das portas pularam para fora e, mesmo à meia-luz, as curvas tensas da carroceria me hipnotizaram.
Abri a porta com “cerimônia” como se estivesse pedindo licença. Na soleira, como uma mensagem subliminar, palavras iluminadas formavam a pergunta: “How alive are you?”. (Quão vivo você está?). A indagação filosófica foi o suficiente para me jogar dentro da cabine.
Assim como o conversível, o cupê tabelado em expressivos R$ 662 mil é para dois. Ainda que não haja um lugarzinho para guardar a bolsa ou a mochila – função exclusiva do bagageiro, que acomoda só 257 litros (aferidos) –, a cabine é espaçosa e requintada. O couro de boa qualidade com costuras à mostra percorre todo o painel, volante, bancos e portas. Talvez seja por isso que os botões dos retrovisores destoem tanto: são os mesmos de modelos da Ford, antiga dona da Jaguar. Infestado de comandos, o console remete ao cockpit de um avião, mais uma referência ao E-Type e seus clássicos interruptores.
Os botões da ignição e modos de comportamento têm acabamento anodizado, como os que acionam sistemas de arma em um caça. Nada que intimide o motorista, os comandos são intuitivos. Ali é possível selecionar um entre três modos de condução: Neve, Normal e Dynamic. Nesse último, as respostas do acelerador e câmbio ficam mais rápidas e a direção mais afiada. A cabine envolve, bancos concha e volante ajustáveis eletricamente aconchegam e aguçam ainda mais os sentidos. Em especial a audição. Ao ligar o botão da ignição, um rugido enorme ecoou, lembrando que, embora eu estivesse em um modelo com confortos de sedãs como o XJ, ainda era um animal ferino. Sob o capô alongado, o 5.0 V8 com compressor mecânico esbravejava: precisava dar vazão aos seus 550 cv de potência e 69,5 kgfm de torque. Ele pediu, eu atendi.
UM JAGUAR SOLTO NA CIDADE Mesmo em velocidades reduzidas, a direção é pesada. É o aviso que para lidar com o F-Type, a rédea deve ser curta. Ao volante, as dimensões do cupê – 4,47 m de comprimento e 2,04 m de largura – não parecem tão parrudas, a não ser na hora de estacionar, onde a fé na série de sensores e câmera de ré é necessária. Ele até se estica como um gato pelo trânsito, o problema é quando põe suas patas em um buraco. Dura, a suspensão lê todas as imperfeições do piso e passa o recado para dentro da cabine.
Colocar os 550 cv à prova não foi difícil. Selecionei a função Dynamic e arrisquei uma pisada vigorosa para cutucar a onça. Aliás, um jaguar nada mais é do que uma onça-pintada.
Colocar os 550 cv à prova não foi difícil. Selecionei a função Dynamic e arrisquei uma pisada vigorosa para cutucar a onça. Aliás, um jaguar nada mais é do que uma onça-pintada.
A vara foi curta. Senti toda a coluna e a cabeça grudar no banco e, em dois segundos, literalmente, o velocímetro saltou para além dos 110 km/h. Aliviei rapidamente o pé no acelerador e o motor esbravejou. Mas ele podia mais. Através de um botão no console, acionei o sistema de escape ativo, que abre as válvulas das saídas. O grave grito da feraencheu a noite.
Na pista, o esportivo mostrou ainda mais disposição, graças à suspensão ativa e ao vetoramento de torque, que despeja mais força na roda com mais aderência. Tudo o ajuda a
arrancar de 0 a 100 km/h em 4,4 segundos. Nessa velocidade, o spoiler traseiro levanta automaticamente para ajudar o eixo traseiro a ficar plantado no piso. O entusiasmo só é
castrado aos 300 km/h, limitados eletronicamente. Que ele podia dar mais, podia.
Na pista, o esportivo mostrou ainda mais disposição, graças à suspensão ativa e ao vetoramento de torque, que despeja mais força na roda com mais aderência. Tudo o ajuda a
arrancar de 0 a 100 km/h em 4,4 segundos. Nessa velocidade, o spoiler traseiro levanta automaticamente para ajudar o eixo traseiro a ficar plantado no piso. O entusiasmo só é
castrado aos 300 km/h, limitados eletronicamente. Que ele podia dar mais, podia.
Com perto de 70 kgfm disponíveis entre 2.500 e 4.500 rotações, o F-Type R quase emenda a faixa de torque máximo com a potência, que chega aos 6 mil giros. Pisou, ele dispara e você terá que procurar o pedal do meio. Os freios a disco ventilados nas quatro rodas têm cerca de 38 cm, capazes de preencher as rodas de 20 polegadas. A 100 km/h, o F-Type estanca em 40,1 metros. Não é uma bela marca, mas a Jaguar reserva freios de cerâmica de carbono. Talvez seja porque ninguém queira saber de parar a bordo de um superesportivo desse calibre.
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